Workshops sobre e-friction (atrito eletrônico) na Itália e na Espanha - lições aprendidas
"A partir de pesquisas sociais, descobrimos que a incerteza cria atrito. Isso também acontece com as nossas economias".
(Narcis Serra, presidente do IBEI)
O que impede a Espanha e a Itália de explorar todo o potencial da economia da Internet? Nesse momento em que os dois países estão se esforçando para reacender suas economias, a Internet pode ser a chave para o crescimento e a geração de empregos. Mas como?
Essa questão tão importante foi o centro de duas mesas redondas organizadas pela ICANN e o Boston Consulting Group (BCG) na Itália e na Espanha, com a parceria da "Agência Italiana para Questões Digitais" em Roma, em fevereiro, e do Institut Barcelona D'estudis Internacionals (IBEI) no campus de Pompeu Fabra em Barcelona, em março. A finalidade das mesas redondas era discutir e identificar recomendações de políticas sobre 'quais engrenagens lubrificar' para ajudar a impulsionar a economia da Internet. Os dois encontros foram realizados sob as regras da Chatam House.
Começando pela Itália e pela Espanha, dois países com classificações similares no índice global de e-Friction (49 e 47, respectivamente), os resultados revelaram os desafios enfrentados e as possíveis oportunidades para o futuro.
Um novo ecossistema e um novo discurso para desenvolver uma economia digital
O álibi da infraestrutura
Há algum tempo, a maior parte das ações se baseia na hipótese de que para aumentar o número de pessoas on-line e promover o crescimento da economia digital, é necessário melhorar a infraestrutura. Isso é verdade, mas não é suficiente para criar um ambiente econômico digital sem atritos.
Uma análise mais detalhada dos quatro pilares do índice de e-Friction (infraestrutura, indústria, indivíduo e informações) revelou como é necessário agir. Intervenção no setor financeiro, acesso a capitais de risco e criação de confiança em transações on-line são apenas alguns exemplos de como a Itália e a Espanha podem melhorar sua pontuação de e-friction com políticas direcionadas, além do investimento em infraestrutura.
Educar para inovar
A educação surgiu como objetivo fundamental de médio a longo prazo para impulsionar o crescimento da economia digital. Aumentar a alfabetização, tanto em linguagem quanto em informática, é essencial para aproveitar as oportunidades da economia digital, inclusive a criação de mais conteúdo local para a conexão com a comunidade global.
PMEs on-line!
O modelo tradicional de pequenas e médias empresas (PMEs) característico da Espanha e da Itália precisa evoluir e se adaptar às oportunidades e aos desafios da Internet global. Identificou-se que é essencial criar políticas de suporte à criação de empresas, apoio a start-ups e treinamento para o empreendedorismo social. De acordo com um participante, apenas entre 6 e 7% das PMEs da Itália usam a Internet para o comércio eletrônico, acessando um mercado fragmentado na Europa, que limita ainda mais o potencial de crescimento. Vale notar que todos os participantes da Itália consideraram essencial a intervenção em toda a Europa para criar um mercado digital unificado.
Na Espanha, dados sobre o registro de nomes de domínio fornecidos por um dos participantes comprovam os resultados da classificação global de e-Friction: índice de 3,7% de domínios registrados ativos (em comparação com a Holanda, que tem um índice de 50%). Além disso, 70% das empresas do país não contam com site na Web. Isso demonstra que o país tem muitas oportunidades de aproveitar melhor o potencial econômico da Internet.
Duas perguntas importantes geraram reflexão durante o encontro na Espanha, mas certamente também se aplicam à Itália: "Políticas públicas que criem estruturas normativas e tributárias poderiam ajudar a envolver as microempresas e estimular seu crescimento?" "Em um mercado que ainda é amplamente dominado por um grupo restrito de grandes corporações, a colaboração entre PMEs e a administração pública poderia facilitar seu crescimento?"
Um modelo de governança para o sucesso
Nos dois países, os participantes concordaram que existe a necessidade de uma nova abordagem à governança e à organização, refletindo a dinâmica da Internet em um modelo ágil, com várias partes interessadas, que responda aos desafios do desenvolvimento rápido da Internet para promover o crescimento econômico.
Na Espanha, as discussões entre os participantes destacaram como a burocracia e o tamanho do setor público criaram atritos em sua economia digital. O sistema de aquisição, a complexidade da estrutura de administração pública e o modelo de governo com vários níveis agregam blocos de atrito ao mercado digital. Embora haja grandes diferenças regionais dentro do próprio país, a função do setor público ao responder à realidade da economia digital precisa ir além da prioridade do investimento em infraestrutura.
Conclusão:
Durante os encontros, um dos participantes fez uma observação pertinente: ao longo da história, todos sempre têm a impressão de estar vivendo um período excepcional. Provavelmente isso nunca tenha sido tão real quanto hoje, pois o impacto da Internet realmente transformou a história.
Os participantes reclamaram que normalmente na Espanha e na Itália a comunicação se concentra nas ameaças, nas empresas e nos empregos perdidos, e nos desafios, com uma postura retrógrada em relação à Internet, e que isso poderia minar seu potencial de proporcionar benefícios incríveis.